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diogenes ramos on 7/10/2010
Marcus, suas aventuras são sempre fascinantes e aprecio bastante seu senso de humor. Deu até pra sentir os solavancos e a água fria.... estou aguardando até a próxima. Diogenes Ramos




Yucatan - Mexico by Marcus Coltro
 

Em maio de 2010 Luis Vela me convidou para a abertura de sua exposição de conchas no Museo del Mar Sisal, Museu de História Natural de Mérida, Yucatan, México. A última vez que estive na região foi em 2003, fui a Cancún e Isla Mujeres, então aproveitei a oportunidade e perguntei ao Luis se ele poderia me indicar algum lugar para coleta próximo à sua cidade. Ele prontamente respondeu e ofereceu ir mergulhar e coletar comigo. Inclusive conseguiu com um amigo dois equipamentos de mergulho completos que usaríamos durante a viagem.

Luis estava esperando no terminal assim que cheguei e me levou a um hotel próximo a sua casa. De lá fomos visitar o museu e a exposição de conchas. O museu não é muito grande, mas é bem arrumado e com várias vitrines educativas. As caixas com conchas são da coleção particular do Luis e contem material do mundo todo.

Mais tarde fomos buscar um amigo do Luis, o Saulo, ele iria nos acompanhar na viagem de mergulho e conhecia alguns pescadores que alugariam um barco. Chegamos em Sisal e assim que agendamos a saída fomo almoçar em um restaurante de comida do mar (claro!). Eu gosto muito dos temperos usados na culinária mexicana, especialmente as pimentas! Depois de comer, fomos a um criadouro de camarões que estava abandonado fazia algum tempo. O Luis havia coletado algumas Neritas lá e sabia onde encontrar mais. Chegamos a um pequeno lago onde se era possível ver algumas pelotas em cima das pedras – eram as Neritas! A água estava gelada – e eu não estou acostumado a mergulhar em água doce, o que é mais fácil de fazer do que na água salgada, pois em água doce é mais fácil afundar e ficar no fundo. Encontramos alguns exemplares de Neritina aff. virginea - deu para notar que se trata de outra espécie, já que nunca encontrei Neritina virginea em água doce e vivendo submersa o tempo todo. O laguinho ficava próximo a uma trilha que levava ao mar. Estranhei o fato de não ver nenhum turista naquela praia tão bonita – logo descobri o porquê. Senti uma ferroada no meu braço e vi uma mosca me picando! Era uma mosca – e não um pernilongo! Devia ser um moscongo…. Assim que a quantidade de insetos nos picando aumentou achamos melhor ir embora.

Ainda estava escuro assim que saímos da casa do Luis para irmos a Sisal. Uma das coisas que me agradam nestas viagens é a possibilidade de ver paisagens bem diferentes daquela que vejo do meu apartamento em São Paulo:

Esta é a vista da estrada:

Assim que chegamos os pescadores já nos esperavam. Depois de alguns minutos navegando chegamos ao local de mergulho. Eu fazia idéia de que encontraria o mesmo tipo de água do resto do Caribe, quente e super transparente. Bom, era o contrário – gelada pra dedéu e turva! Não é que era suja, mas o fundo era coberto por uma floresta de algas compridas. Em alguns lugares eu tinha que entrar no meio das algas e elas se enroscavam no meu equipamento. Encontrei Astraea tecta cubana, Cerithium guinaicum, e algumas bivalves. Na subida vi um monte de águas-vivas nadando – tirei fotos e filmei

Ainda tinha ar no meu tanque, então nos movemos uns 200 metros dali – mas o fundo era igual e as conchas as mesmas. Enquanto o Luis e eu procurávamos por conchas, seu amigo Saulo ficou fazendo mergulho livre para arpoar peixes e lagostas. Eu raramente presto atenção a outra coisa que não conchas, então fiquei surpreso ao ver o tamanho dos peixes e lagostas que ele pescou! Pedi ao capitão que fossemos a um lugar com mais pedras e areia – de preferência sem algas. Eu já estava amortecido pelo frio e achei que em um lugar mais raso a água seria mais quente. De cima dava para ver que o fundo tinha mais bolsões de areia entre pedras – mas conforme ia descendo a água ficava mais gelada. Quando toquei o fundo minhas mãos ficaram azuis de frio – era hora de ir embora.

Voltamos ao cais e enquanto o capitão preparava nosso almoço – ceviche (peixe cru preparado com limão, tomate, cebola, sal, pimenta e coentro) – eu fui dar uma olhada no mangue atrás do estacionamento. Entre as raízes e o lodo do mangue eu encontrei exemplares de Geukensia demissa granosissima e alguns pequenos Melampus. Em alguns minutos me chamaram para almoçar – não lembro de ter comido um ceviche tão bom! Enquanto comia, eu observava a água próxima ao cais e imaginei se não haveria conchas ali. Foi quando vi um estranho tronco, boiando contra a maré: um crocodilo! Não sei porque, mas eu perdi a vontade de mergulhar.

Volatmos a Mérida para encontrar a esposa de Luis – ela me convidou para uma festa de aniversário de 50 anos de sua amiga. Era uma festa bem diferente daquelas que temos no Brasil – os homens vestiam camisas bordadas brancas e as mulheres com vestidos brancos estampados com flores coloridas. Havia uma mesa de comidas típicas enorme, que me fez arrepender um pouco da quantidade de ceviche que havia comido um pouco antes.

Depois de uma noite em dormida, saimos para Cancun bem cedo. Luis sugeriu pararmos em alguns lugares para procurar terrestres, e visitar as runias de Chichen Itza. A primeira parada foi o Cenote Xtojil (Cenote é um enorme poço natural). Parecia uma cena do filme Avatar, com um grande buraco no chão cheio de água, e raízes aéreas vindo do alto! Lá embaixo era possível ver sinais da presença Maia, eles usavam o cenote para praticar rituais de sacrifício de humanos e de animais. Depois de alguns minutos apreciando a paisagem eu voltei os olhos para o chão e encontrei alguns exemplares de terrestres mortos. Em seguida encontrei alguns vivos sobre as pedras, eram Choanopoma gaigei, Choanopoma largillierti e Microceramus concisus.

Saímos de lá e fomos para Chichen Itza. Há alguns anos o Luis trabalhou no Hotel Mayland – um resort dentro do parque nacional – assim pudemos entrar, almoçar e estacionar o carro lá. Normalmente eu evito lugares muito cheios de turistas, mas esta era uma oportunidade que não deveria deixar passar. É um lugar fantástico, especialmente se pensando que os Maias caminharam nos mesmos lugares há 1.500 anos atrás! Após alguns minutos apreciando o local, nos embrenhamos em uma trilha para procurar por terrestres. Encontramos vários outros, inclusive Orthalicus princeps, Neocyclotus dysoni, mais Chondropomatidae e um Drymaeus serpesratrum.

Luis disse que havia outro cenote ali perto, mas que teríamos que caminhar uns 2 quilômetros para chegar lá. A trilha era estreita, só usada por turistas na maior parte cavalgando com guias. Estava muito quente e úmido, os dois quilômetros pareciam 10... Encontramos Helicina arenicola, mais Chodropomatidae e Bulimulidae. Ao chegar ao cenote começou a chover forte. Ao contrário do outro, este era seco e totalmente coberto de vegetação. E também não havia uma escada para chegar lá embaixo, só um caminho escorregadio cheio de pedras e lama. Descemos assim mesmo e esperamos a chuva amainar um pouco antes de começar nossa longa volta.

Chegamos em Cancún no começo da noite, largamos nossas coisas no apartamento do Luis e fomos jantar em um restaurante típico mexicano, o Hooters. Na manhã seguinte seguimos para Playa del Carmen para pegar o ferryboat para Cozumel. O Luis me deixou com todo o equipamento na calçada enquanto estacionava o carro. Levamos todo o equipamento – inclusive os dois tanques – para a entrada do ferryboat quando o segurança nos alertou que não poderíamos levá-los conosco, assim tivemos que deixá-los em um armário alugado.

No instante que pisamos em Cozumel caiu uma tempestade. Teríamos que procurar um jeep para alugar pois a estrada (se é que dava para se chamar de estrada) era muito ruim. Perguntamos em algumas locadoras mas nenhuma tinha um veículo 4x4 para alugar naquele momento. O dono de uma delas disse que poderia alugar o jeep dele – com ele de motorista, o que no fim foi melhor ainda. Seu jeep provavelmente foi usado pelos espanhóis quando chegaram à América, mas para o que precisávamos estava mais do que bom. O passo seguinte foi alugar dois tanques e partir.

A estrada até a costa era bem pavimentada – mas choveu o tempo todo e o jeep não tinha portas nem janelas. Ao entrar na estradinha confirmei o sentimento de que fora uma boa idéia usar os serviços de nosso guia, e seu jeepssauro. O piso era totalmente irregular, onde não era de areia fofa era com pedras soltas.

Depois de apanhar no chacoalhar da estrada e de ter cortes causados pelas folhas da vegetação, chegamos a uma entrada para a praia, perto de uma cabana abandonada. Luis e eu nos preparamos – embaixo de chuva – e criamos coragem para entrar no mar revolto, com as ondas arrebentando nas pedras próximas à praia. O recife ficava um pouco longe, então teríamos que percorrer um caminho submerso longo com a corrente nos jogando para os lados, e fazendo com que o fundo de movesse o tempo todo. Quem mergulha nessas condições sabe que isso é uma combinação perfeita para enjoar – e foi o que aconteceu. Depois de alguns minutos lutando contra a correnteza e sem encontrar nada que valesse a pena eu decidi voltar para a praia. Pelo menos na areia encontramos raros Conus kirkandersi e outras conchas interessantes. Pena que havia muito lixo trazido pelas correntes.

Depois de um lanche rápido voltamos para a cidade para pegar o ferryboat. O Luis teria que voltar ao trabalho no dia seguinte, mas eu teria mais dois dias antes de voltar para casa. Só que o tempo estava piorando e havia a previsão de uma forte tempestade tropical chegar. Assim preferi antecipar a volta, caso a tempestade chegasse eu teria que ficar trancado no apartamento sem fazer nada!

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