Já ouviu 
                        falar de Kiritimati? 
                        É um atol 
                        no meio do oceano 
                        Pacífico, 
                        também 
                        conhecido como 
                        Ilhas Christmas 
                        (não confundir 
                        com a ilha de 
                        mesmo nome no 
                        oceano Índico), 
                        e faz parte da 
                        República 
                        do Kiribati, 
                        2 mil km ao sul 
                        do Havaí. 
                        É o maior 
                        atol coralino 
                        do mundo, com 
                        640 km² 
                        . Os ingleses 
                        fizeram testes 
                        nucleares lá 
                        no fim dos anos 
                        50 e os americanos 
                        fizeram em 1962 
                        (mas não 
                        encontrei nenhuma 
                        concha fosforescente) 
                     
                     Em sua língua 
                        local, Gilbertês, 
                        a sílaba 
                        "ti" 
                        soa como "ss" 
                        então 
                        Kiritimati vira 
                        Kirissmass = 
                        Christmas! É 
                        o primeiro local 
                        no mundo onde 
                        o sol nasce primeiro 
                        em cada dia, 
                        e está 
                        na mesma longitude 
                        que o Havai - 
                        só que 
                        lá o horário 
                        é do dia 
                        anterior. Quando 
                        saí de 
                        Honolulu era 
                        terça-feira 
                        à tarde 
                        e após 
                        3 horas cheguei 
                        em Kiritimati 
                        na quarta-feira 
                        do dia seguinte, 
                        perdi um dia. 
                        Na volta saí 
                        de Kiritimati 
                        em uma quarta-feira 
                        de manhã 
                        e cheguei em 
                        Honolulu no dia 
                        anterior, terça-feira 
                        - viagem no tempo!
                     Por que escolhi 
                        Kiribati? Me 
                        pareceu um local 
                        interessante 
                        já que 
                        há poucas 
                        conchas vindas 
                        de lá 
                        estão 
                        em coleções 
                        particulares 
                        (você tem 
                        alguma?). Também 
                        estranhei o fato 
                        de Bunnie Cook 
                        nunca ter ido 
                        coletar lá, 
                        sendo que ela 
                        viajou o mundo 
                        todo e Kiribati 
                        fica relativamente 
                        perto de Honolulu.
                     Para chegar lá 
                        há a opção 
                        de sair de Fiji 
                        ou de Honolulu, 
                        voos operados 
                        pela Air Pacific 
                        chegando somente 
                        às quartas-feiras. 
                        A maior parte 
                        (se não 
                        o total) dos 
                        turistas vão 
                        para pescar nas 
                        lagoas internas. 
                        Quando procurei 
                        informações 
                        sobre viagens 
                        para lá, 
                        encontrei sites 
                        especializados 
                        em pacotes de 
                        pesca. Na descrição 
                        da ilha há 
                        uma seção 
                        de dicas onde 
                        se lê "Coisas 
                        para se fazer 
                        na ilha caso 
                        não vá 
                        pescar: nada, 
                        nem vá". 
                        Bom, eu era certamente 
                        o único 
                        do avião 
                        que não 
                        carregava equipamento 
                        de pesca.
                     O primeiro passo 
                        antes de viajar 
                        foi conseguir 
                        uma autorização 
                        para coletar 
                        conchas - sempre 
                        um processo burocrático 
                        e demorado, mas 
                        finalmente consegui. 
                        O voo de Honolulu 
                        levou três 
                        hora e chegamos 
                        ao aeroporto 
                        Internacional 
                        de Cassidy. Acho 
                        que meu escritório 
                        é maior 
                        que o aeroporto... 
                        No mesmo voo 
                        vieram alguns 
                        latino-americanos 
                        e eu reconheci 
                        o sotaque - eram 
                        equatorianos 
                        recrutados por 
                        barcos de pesca 
                        de atum que ancoram 
                        na ilha para 
                        abastecer. 
                     Depois de passar 
                        pela alfândega 
                        (e ganhando um 
                        carimbo novo 
                        no passaporte) 
                        saí para 
                        procurar o transporte 
                        do Hotel Captain 
                        Cook. Havia uma 
                        "van" 
                        esperando, com 
                        dois turistas 
                        americanos que 
                        estavam de visita 
                        para... pescar, 
                        claro. A "van" 
                        na realidade 
                        era uma caminhonete 
                        adaptada para 
                        carregar passageiros 
                        na caçamba.
                     A economia da 
                        ilha é 
                        baseada em exportação 
                        de "copra", 
                        polpa de coco 
                        desidratada, 
                        tem aproximadamente 
                        9 mil habitantes, 
                        as estradas são 
                        meio antigas 
                        e esburacadas 
                        (bom, só 
                        tem uma estrada). 
                        Levamos alguns 
                        minutos para 
                        chegar ao hotel, 
                        que era de frente 
                        para a praia 
                        (claro, onde 
                        mais ficaria 
                        em um atol?). 
                        Eu cheguei e 
                        nem estava muito 
                        preocupado em 
                        olhar o quarto, 
                        fui direto olhar 
                        a praia. Não 
                        era o lugar mais 
                        adequado para 
                        fazer snorkel, 
                        com as ondas 
                        arrebentando 
                        na praia.
                     O quarto era 
                        razoavelmente 
                        bom, duas camas, 
                        tudo limpo, com 
                        uma pequena geladeira 
                        e ar condicionado. 
                        A única 
                        coisa que não 
                        me agradou muito 
                        foi que não 
                        tinha água 
                        quente - sim, 
                        gosto de tomar 
                        banho quente 
                        mesmo em locais 
                        quentes - tente 
                        fazer snorkel 
                        por 5 ou 6 horas 
                        e depois tomar 
                        um banho gelado! 
                        Mas tudo bem, 
                        estava ansioso 
                        demais para esquentar 
                        a cabeça. 
                        Apesar de tudo 
                        estar limpo, 
                        eu sempre gosto 
                        de usar inseticida 
                        no quarto, um 
                        tipo que é 
                        colocado no meio 
                        do ambiente e 
                        assim que o lacre 
                        é quebrado 
                        todo o conteúdo 
                        é espirrado. 
                        Basta deixar 
                        o quarto fechado 
                        por duas horas 
                        que estará 
                        dedetizado por 
                        meses contra 
                        baratas e outros 
                        insetos rasteiros. 
                     
                     Após me 
                        instalar já 
                        estava na hora 
                        do jantar, então 
                        fui me encontrar 
                        com "todos" 
                        os outros três 
                        hóspedes 
                        do hotel. John 
                        (que organiza 
                        viagens de pesca), 
                        Bill e Craig 
                        (os dois americanos 
                        que chegaram 
                        comigo no avião) 
                        e Kent, um médico 
                        voluntário 
                        que todos os 
                        anos vem à 
                        ilha para ajudar 
                        na clinica local. 
                        Eu não 
                        estava esperando 
                        comer fartas 
                        refeições 
                        (só tem 
                        o restaurante 
                        do hotel, mais 
                        nada perto) e 
                        seria uma boa 
                        oportunidade 
                        de perder algum 
                        peso. Me enganei 
                        de longe, a comida 
                        era muito boa 
                        e não 
                        perdi um grama. 
                        Ao conversar 
                        com meus novos 
                        amigos, aproveitei 
                        para aprender 
                        algumas dicas 
                        para me virar 
                        na ilha. Eu precisava 
                        ir para a capital, 
                        Londres, para 
                        mergulhar (nunca 
                        pensei em escrever 
                        essa frase) e 
                        não fazia 
                        idéia 
                        de como chegar 
                        lá, já 
                        que o único 
                        carro de aluguel 
                        do hotel já 
                        estava ocupado. 
                        Eles tem um ônibus 
                        na ilha, mas 
                        me disseram que 
                        não dava 
                        para confiar 
                        nos horários 
                        e eu poderia 
                        ficar esperando 
                        por horas. Então 
                        Kent ofereceu 
                        uma carona no 
                        carro da clínica 
                        que viria busca-lo 
                        na manhã 
                        seguinte. Eu 
                        também 
                        queria tentar 
                        ir mergulhar 
                        em Paris, mas 
                        as estradas estavam 
                        inundadas e seria 
                        difícil 
                        passar - pois 
                        é, além 
                        de Londres tem 
                        Paris (com uma 
                        estrada que liga 
                        as duas!), Polônia 
                        e Tennessee (vai 
                        entender essa 
                        última).
						
                     Na manhã 
                        seguinte o motorista 
                        veio nos buscar. 
                        Já que 
                        a ilha havia 
                        sido colonizada 
                        por ingleses, 
                        eles usam o lado 
                        esquerdo da estrada 
                        - na realidade 
                        não usam 
                        lado nenhum, 
                        só ficam 
                        desviando dos 
                        buracos. Perguntei 
                        ao motorista 
                        qual era a distância 
                        do hotel até 
                        Londres, ao que 
                        me respondeu 
                        "30 minutos". 
                        Eu insisti, mas 
                        quantos quilômetros? 
                        "Eu só 
                        sei por tempo". 
                        Eu olhei no Google 
                        Maps e vi que 
                        era mais ou menos 
                        20km.
                     Ao chegar na 
                        clínica, 
                        o Ken me deixou 
                        usar o toalete 
                        para me trocar 
                        e deixar minhas 
                        coisas enquanto 
                        estivesse mergulhando. 
                        Como a companhia 
                        aérea 
                        me deu um limite 
                        ridículo 
                        de peso para 
                        carregar, não 
                        pude trazer nem 
                        poucas peças 
                        de lastro comigo. 
                        Eu levei um cinto 
                        de lona com zíper, 
                        que é 
                        para ser usado 
                        com saquinhos 
                        de chumbo granulado, 
                        e coloquei no 
                        lugar sacos zip 
                        cheios de areia 
                        e pedrinhas da 
                        praia (sim, sou 
                        um gênio 
                        modesto). A água 
                        estava meio turva 
                        e o fundo era 
                        de areia com 
                        poucos lugares 
                        com pequenas 
                        pedras e algas. 
                        Os únicos 
                        lugares que conchas 
                        e outros animais 
                        poderiam se esconder 
                        seriam aglomerados 
                        de cabos elétricos 
                        antigos e uma 
                        tubulação 
                        de óleo 
                        abandonada, toda 
                        destruída. 
                        Meio frustrante, 
                        poucas conchas, 
                        tipo Cypraea 
                        moneta, Conus 
                        pulicarius e 
                        lividus, Terebra 
                        maculata, Nerita 
                        plicata e algumas 
                        espécies 
                        pequenas. E sem 
                        sinal de tubarões, 
                        apesar dos alertas 
                        dos habitantes 
                        locais antes 
                        de eu entrar 
                        na água. 
                        Depois de cinco 
                        horas mergulhando 
                        voltei para a 
                        clínica 
                        para pegar uma 
                        carona para o 
                        hotel. 
                     Perguntei ao 
                        Ken se ele sabia 
                        porque não 
                        haviam corais 
                        em Londres, já 
                        que era bem perto 
                        da abertura do 
                        atol, ele disse 
                        que os ingleses 
                        dragaram o interior 
                        para facilitar 
                        a entrada de 
                        navios e isso 
                        destruiu tudo, 
                        o lugar nunca 
                        se recuperou. 
                        O único 
                        lugar que estava 
                        preservado era 
                        uma pequena ilha 
                        na entrada do 
                        atol, Ilha Cook, 
                        mas é 
                        um santuário. 
                        No lado oposto 
                        de Londres fica 
                        Paris - e pelo 
                        que vi nas imagens 
                        do satélite 
                        seria a mesma 
                        coisa que Londres 
                        (também 
                        nunca pensei 
                        em escrever que 
                        Londres é 
                        igual a Paris), 
                        então 
                        a alternativa 
                        seria mergulhar 
                        em frente ao 
                        hotel.
                     Levantei cedo 
                        e fui caminhar 
                        na praia para 
                        checar se haviam 
                        conchas interessantes 
                        na areia, e procurar 
                        um local adequado 
                        para mergulhar. 
                        Ouvi dizer que 
                        no passado foram 
                        encontrados exemplares 
                        mortos do raro 
                        Conus adamsoni. 
                        Uma mulher local 
                        estava se aproximando 
                        com uma sacola 
                        plástica 
                        nas mãos. 
                        Ela me perguntou 
                        o que eu estava 
                        fazendo, e ao 
                        explicar que 
                        estava procurando 
                        conchas, me mostrou 
                        o que estava 
                        no saco: um monte 
                        de conchas fantásticas, 
                        incluindo alguns 
                        Conus adamsoni 
                        frescos! Eu estava 
                        tão excitado 
                        que não 
                        podia acreditar 
                        naquilo - até 
                        eu olhar novamente 
                        para ela e perceber 
                        que havia se 
                        tornado a Gisele 
                        Bundchen....então 
                        eu acordei sem 
                        nada, droga!
                     Na vida real, 
                        andei dois quilometros 
                        até chegar 
                        a um local onde 
                        a faixa entre 
                        a arrebentação 
                        e a praia era 
                        um pouco mais 
                        larga e as ondas 
                        não pareciam 
                        ser tão 
                        fortes. Foi difícil 
                        caminhar na areia 
                        fofa com pedaços 
                        de coral, carregando 
                        todo o equipamento. 
                        Encontrei um 
                        espaço 
                        entre a vegetação 
                        onde poderia 
                        me trocar e deixar 
                        minha roupa seca, 
                        a água 
                        e uns biscoitos 
                        que levei (meu 
                        almoço). 
                        Na realidade 
                        poderia deixar 
                        no meio da praia, 
                        já que 
                        não havia 
                        uma viva alma 
                        em toda a praia, 
                        provavelmente 
                        em todo aquele 
                        lado do atol. 
                        E eu com certeza 
                        seria a única 
                        pessoa mergulhando, 
                        de acordo com 
                        o que a atendente 
                        do hotel me perguntou 
                        antes de eu sair 
                        "você 
                        vai mergulhar 
                        lá com 
                        todos aqueles 
                        tubarões?". 
                        Eu não 
                        tive problemas 
                        com tubarões, 
                        mas em compensação 
                        com as ondas 
                        e a correnteza 
                        foram terríveis. 
                        Provavelmente 
                        foi um dos mergulhos 
                        mais difíceis 
                        que já 
                        mergulhei - e 
                        o motivo de a 
                        Bunnie Cook nunca 
                        ter vindo coletar 
                        aqui mesmo sendo 
                        tão perto 
                        do Havaí. 
                     
                     Eu tinha que 
                        agarrar firmemente 
                        alguma coisa, 
                        pedra, coral 
                        ou enfiar minha 
                        faca no chão 
                        para poder ficar 
                        no lugar e não 
                        ser carregado 
                        para longe. Até 
                        os peixes tinham 
                        que lutar contra 
                        a correnteza. 
                        Pelo menos encontrei 
                        muito mais conchas, 
                        e havia um fundo 
                        tropical com 
                        corais e peixes 
                        coloridos. Achei 
                        Cypraea depressa, 
                        poraria, moneta 
                        (grandes), alguns 
                        Conus, Thais 
                        armigera grande, 
                        alguns raros 
                        Latirus amplustre, 
                        Bursa bufonia 
                        e várias 
                        espécies 
                        pequenas. Vi 
                        diversas Tridacnas 
                        coloridas - que 
                        obviamente só 
                        tirei fotos. 
                        Aliás, 
                        até para 
                        tirar fotos era 
                        difícil 
                        já que 
                        eu não 
                        podia largar 
                        minha "ancoragem" 
                        por muito tempo. 
                        Claro que tirei 
                        fotos, mas ralei 
                        a câmera 
                        inteira. 
                     Como a Lei de 
                        Murphy manda, 
                        as melhores conchas 
                        ficavam perto 
                        da arrebentação, 
                        onde as ondas 
                        eram grandes 
                        e a correnteza 
                        incrivelmente 
                        forte. Em um 
                        momento quase 
                        que a máscara 
                        saiu de meu rosto 
                        - e ainda bem 
                        que decidi usar 
                        minha roupa de 
                        neoprene de 1mm 
                        ao invés 
                        da roupa de mergulho 
                        de tecido. Uma 
                        onda me jogou 
                        contra os corais 
                        e quase rasgou 
                        o neoprene. Se 
                        fosse a de tecido 
                        teria rasgado 
                        minha perna ao 
                        invés 
                        do neoprene e 
                        digamos que não 
                        seria uma boa 
                        coisa de acontecer 
                        sendo que eu 
                        havia visto alguns 
                        tubarões 
                        na parte mais 
                        funda. Pelo menos 
                        encontrei uns 
                        Turbo argyrostomus 
                        grandes, Cypraea 
                        caputserpentis 
                        (só encontrei 
                        lá), Cypraea 
                        depressa escuras 
                        e outras conchas. 
                        Eu cheguei a 
                        me aproximar 
                        mais da parte 
                        mais funda, mas 
                        a corrente piorava 
                        mais e eu não 
                        estava muito 
                        a fim de voltar 
                        para Honolulu 
                        pelo mar.
                     Depois de 6 horas 
                        mergulhando eu 
                        saí, muito 
                        mais satisfeito 
                        que no dia anterior. 
                        Mas precisava 
                        encontrar alternativas 
                        para os dias 
                        seguintes. Ao 
                        chegar ao hotel 
                        no entardecer, 
                        antes de entrar 
                        no quarto eu 
                        sentei na praia 
                        para apreciar 
                        o por do sol 
                        - fiz isso todos 
                        os dias da viagem. 
                        Esta mudança 
                        de rotina é 
                        o que abastece 
                        meu espírito, 
                        sair de uma cidade 
                        de mais de vinte 
                        milhões 
                        de habitantes 
                        para uma praia 
                        deserta! Me esforço 
                        para manter aqueles 
                        momentos na memória 
                        para relembrar 
                        em dias estressantes 
                        no escritório, 
                        ou quem sabe 
                        me teletransportar 
                        de volta quando 
                        tiver superpoderes 
                        no futuro. Posso 
                        nunca ficar rico 
                        vendendo conchas, 
                        mas a experiência 
                        de vida, lugares 
                        e pessoas que 
                        conheço 
                        em viagens compensam 
                        quaisquer problemas 
                        que possa ter. 
                        E paraísos 
                        como esse me 
                        fazem apreciar 
                        mais estar vivo.
                     Tomei um banho 
                        rápido 
                        e fui examinar 
                        os meus achados. 
                        Aí fui 
                        jantar com o 
                        pessoal - eles 
                        também 
                        estavam exaltantes 
                        com o resultado 
                        da pesca do dia. 
                        Me explicaram 
                        como funcionava 
                        o esquema deles: 
                        vão para 
                        um local do atol 
                        onde ficam com 
                        água um 
                        pouco acima dos 
                        joelhos, cada 
                        um paga por um 
                        guia que fica 
                        à frente 
                        deles e os alerta 
                        a direção 
                        que devem jogar 
                        o anzol, tipo 
                        "10 metros 
                        às 2 horas" 
                        - se referindo 
                        à direção 
                        que devem arremessar. 
                        Eles somente 
                        podem tirar fotos 
                        dos peixes, devem 
                        cuidadosamente 
                        retirar o anzol 
                        e colocar o peixe 
                        de volta na água, 
                        tendo certeza 
                        de que ele sairá 
                        nadando. Após 
                        a conversa o 
                        jantar chegou, 
                        sashimi de atum 
                        fresco e lagostas! 
                     
                     No dia seguinte 
                        fui caminhar 
                        para o interior 
                        do atol para 
                        procurar terrestres, 
                        em direção 
                        à uma 
                        lagoa pertencente 
                        ao hotel chamada 
                        Bathing Lagoon 
                        (lagoa de banho). 
                        No primeiro dia 
                        eu havia passado 
                        de carro por 
                        lá com 
                        o Kent, que foi 
                        examinar algumas 
                        colmeias de abelha 
                        que ele estava 
                        criando no local 
                        - ele está 
                        ensinando alguns 
                        moradores a criar 
                        abelhas para 
                        produzir mel 
                        comercialmente. 
                        Eu sabia que 
                        seria uma caminhada 
                        longa, mais ou 
                        menos 3km em 
                        uma estrada deserta 
                        de areia - me 
                        disseram para 
                        tomar cuidado 
                        e não 
                        me desviar do 
                        caminho entrando 
                        em um emaranhado 
                        de estradas (todas 
                        parecem iguais). 
                        Mas como sou 
                        muito esperto, 
                        extremamente 
                        inteligente e 
                        com excelente 
                        memória 
                        (tudo mentira) 
                        eu nem me preocupei 
                        em olhar o mapa, 
                        confiando que 
                        lembraria o caminho 
                        que fiz com o 
                        Kent. A estrada 
                        estava meio alagada 
                        em alguns pontos 
                        devido à 
                        tempestade da 
                        noite anterior, 
                        mas dava para 
                        passar à 
                        pé. Não 
                        encontrei nem 
                        sinal de terrestres, 
                        e percebi que 
                        seria impossível 
                        encontrar qualquer 
                        coisa devido 
                        à quantidade 
                        de diversas espécies 
                        de caranguejos 
                        de terra, que 
                        provavelmente 
                        comeriam qualquer 
                        coisa que encontrassem. 
                        Continuei andando 
                        em direção 
                        à lagoa 
                        de qualquer forma 
                        - e é 
                        claro que virei 
                        para o lado errado 
                        em um ponto, 
                        me afastando 
                        da lagoa ao invés 
                        de chegar lá. 
                        Antes que me 
                        perdesse e virasse 
                        um náufrago 
                        perdido, voltei 
                        para o caminho 
                        principal e para 
                        o hotel, e fui 
                        mergulhar de 
                        novo no mesmo 
                        local do dia 
                        anterior.
                     Tentei ir um 
                        pouco mais distante 
                        e achei outro 
                        ponto que parecia 
                        bom para arriscar 
                        mergulhar. A 
                        diferença 
                        é que 
                        o fundo não 
                        tinha corais, 
                        mas um tipo de 
                        alga calcárea 
                        cobrindo tudo. 
                        Olhei mais de 
                        perto e percebi 
                        que o fundo era 
                        na realidade 
                        uma colônia 
                        gigante de mariscos 
                        cobertos pela 
                        alga calcárea. 
                        Depois de uns 
                        minutos sem encontrar 
                        nada - e com 
                        a corrente ficando 
                        forte, movi em 
                        direção 
                        ao local do dia 
                        anterior e fiquei 
                        por lá 
                        umas quatro horas.
						
                     O hotel tem um 
                        bloco principal 
                        de quartos onde 
                        ficam o lobby, 
                        restaurante, 
                        bar e sala de 
                        TV, e vários 
                        bangalôs 
                        espalhados pela 
                        propriedade. 
                        Eu fiquei no 
                        bloco principal, 
                        mais fácil 
                        para chegar ao 
                        restaurante e 
                        mais perto da 
                        antena de wi-fi 
                        da internet (sim, 
                        e funcionava!). 
                        Alguns dias na 
                        volta do mergulho 
                        eu ficava sentado 
                        no lobby para 
                        esperar até 
                        que o pessoal 
                        voltasse da pesca. 
                        Uma tarde havia 
                        um grupo de equatorianos 
                        conversando e 
                        tomando cervejas 
                        - eu os cumprimentei 
                        em espanhol e 
                        eles ficaram 
                        surpresos. Contei 
                        que viajei diversas 
                        vezes para o 
                        Equador e me 
                        convidaram para 
                        tomar uns drinques 
                        com eles. Eles 
                        eram a tripulação 
                        de um dos navios 
                        pesqueiros de 
                        atum e iriam 
                        embarcar no dia 
                        seguinte, para 
                        ficar por dois 
                        anos embarcados. 
                        Vida bem dura, 
                        me contaram que 
                        o mar é 
                        muito grosso 
                        lá fora, 
                        que as ondas 
                        cobriam o barco 
                        nos piores dias, 
                        tipo aquele seriado 
                        do canal Discovery, 
                        Pesca Mortal. 
                        E eu choramingando 
                        que o mar estava 
                        ruim para fazer 
                        snorkel... depois 
                        de tomar algumas 
                        (muitas) fui 
                        jantar com o 
                        pessoal que havia 
                        voltado da pesca 
                        e fui dormir.
                     Ainda tinha dois 
                        dias para coletar, 
                        e a melhor opção 
                        ainda era a praia 
                        perto do hotel 
                        - tentei ir para 
                        a direção 
                        oposta, mas o 
                        mar era pior. 
                        Também 
                        cogitei em fazer 
                        um mergulho noturno, 
                        mas somando o 
                        fato de que eu 
                        me esgotava durante 
                        o dia mais a 
                        distância 
                        que teria que 
                        caminhar no escuro 
                        total, eu acabei 
                        desistindo - 
                        acho que estou 
                        ficando velho...
                     Vi várias 
                        espécies 
                        roladas na praia 
                        que não 
                        encontrei mergulhando 
                        - com certeza 
                        vinham detrás 
                        do recife de 
                        fora. Para fazer 
                        uma coleta apropriada 
                        eu teria que 
                        alugar um barco 
                        com tanques de 
                        mergulho (seria 
                        bom se o Tony 
                        McCleery não 
                        tivesse vendido 
                        seu veleiro), 
                        e precisaria 
                        ficar mais tempo, 
                        uma semana só 
                        não dá 
                        para fazer nada.
                     O vôo de 
                        volta para Honolulu 
                        seria na manhã 
                        de quarta-feira, 
                        e o hotel nos 
                        levaria ao aeroporto 
                        3 horas antes 
                        para que pudessem 
                        revistar todas 
                        as malas (procurando 
                        o quê, 
                        eu não 
                        sei)
                     Posso dizer que 
                        para coletar, 
                        Kiritimati não 
                        é para 
                        fracos esperando 
                        conforto em hotel 
                        de luxo e mergulho 
                        em lagoas paradisíacas. 
                        Eu felizmente 
                        consegui encontrar 
                        algum material 
                        interessante 
                        - sem me arrebentar 
                        (muito), e ainda 
                        por cima coloquei 
                        um alfinete novo 
                        no mapa mundi 
                        do escritório!