A Jamaica 
                           é conhecida 
                           por sua rica 
                           fauna de conchas 
                           terrestres 
                           – quase 
                           600 espécies 
                           descritas 
                           até 
                           hoje. Não 
                           sou muito 
                           chegado em 
                           entrar em 
                           florestas 
                           densas, mas 
                           sabia que 
                           seria possível 
                           encontrar 
                           bastante coisa 
                           próxima 
                           à beira 
                           das estradas. 
                           Dirigir em 
                           pequenas estradas 
                           de terra na 
                           Jamaica já 
                           seria uma 
                           aventura à 
                           parte – 
                           principalmente 
                           porque eles 
                           dirigem à 
                           esquerda. 
                           Um motorista 
                           de taxi local 
                           me ensinou 
                           uma forma 
                           de lembrar 
                           de ficar à 
                           esquerda: 
                           “driving 
                           on the right 
                           is suicide”.
                         
                        É sempre 
                           importante 
                           lembrar-se 
                           de anotar 
                           com cuidado 
                           a localidade 
                           exata ao se 
                           coletar conchas 
                           terrestres, 
                           para depois 
                           facilitar 
                           na hora de 
                           identificar 
                           cada espécie. 
                           Eu pensei 
                           em comprar 
                           um GPS manual 
                           para poder 
                           anotar os 
                           dados com 
                           cada concha 
                           – e 
                           como precisava 
                           comprar outra 
                           câmera 
                           para mergulhar 
                           (a minha Casio 
                           Exilim pifou) 
                           eu acabei 
                           matando dois 
                           pássaros 
                           com uma pedrada: 
                           Panasonic 
                           Lumix DMC-TS3. 
                           Ela tem integrados 
                           GPS, bússola, 
                           altímetro, 
                           barômetro 
                           e é 
                           à prova 
                           d’água 
                           até 
                           12 metros 
                           (há 
                           disponível 
                           uma caixa 
                           estanque que 
                           permite ir 
                           até 
                           40 metros). 
                           Comprei online 
                           e testei em 
                           Miami – 
                           a foto dava 
                           as coordenadas 
                           geográficas 
                           e mostrava 
                           até 
                           o nome do 
                           condomínio!
                         
                        O vôo 
                           entre Miami 
                           e Montego 
                           foi bem curto, 
                           uma hora e 
                           vinte minutos 
                           – estava 
                           lotado de 
                           recém 
                           casados indo 
                           passar a Lua 
                           de Mel na 
                           ilha. A previsão 
                           do tempo era 
                           de chuva e 
                           tempestades 
                           a semana toda 
                           – ótimo 
                           para encontrar 
                           conchas terrestres. 
                           Comprei um 
                           pacote na 
                           American Airlines 
                           que combinava 
                           hotel e carro, 
                           por um preço 
                           que seria 
                           a metade do 
                           normal em 
                           alta temporada. 
                           Fiquei no 
                           Sunset Beach 
                           Resort – 
                           um all-inclusive, 
                           ótimo 
                           quarto, piscinas 
                           e atividades 
                           o dia todo. 
                           Claro que 
                           não 
                           desfrutei 
                           de nada disso 
                           – até 
                           perdi a maior 
                           parte dos 
                           almoços 
                           já 
                           que chegava 
                           após 
                           o horário 
                           do fechamento 
                           da cozinha. 
                           (tudo bem, 
                           precisava 
                           perder peso 
                           mesmo)
                         
                        No primeiro 
                           dia fiz snorkel 
                           das 3 à 
                           5 da tarde 
                           – a 
                           luz estava 
                           fraca com 
                           o céu 
                           encoberto 
                           e lá 
                           pelas 5:30 
                           já 
                           estava ficando 
                           escuro. A 
                           maior parte 
                           do coral estava 
                           morta e coberta 
                           de algas – 
                           um sinal de 
                           que a água 
                           estava poluída 
                           pela grande 
                           quantidade 
                           de hotéis 
                           na área. 
                           Acredito que 
                           há 
                           trinta anos 
                           ali deveria 
                           ser cheio 
                           de vida! Só 
                           encontrei 
                           corais vivos 
                           bem distantes 
                           da praia – 
                           onde os turistas 
                           ficavam com 
                           medo de ir. 
                           De qualquer 
                           forma quis 
                           tentar novamente 
                           no dia seguinte.
                         
                        Levantei bem 
                           cedo e fui 
                           direto para 
                           a água 
                           após 
                           comer um café 
                           da manhã 
                           apressado. 
                           No que vi 
                           o sol brilhando 
                           percebi que 
                           havia esquecido 
                           meu capuz 
                           de mergulho. 
                           Fazia algum 
                           tempo que 
                           não 
                           mergulhava 
                           e minha pele 
                           branco-escritório 
                           iria sentir 
                           os efeitos 
                           do sol na 
                           nuca. Usei 
                           minhas habilidades 
                           de MacGyver 
                           e cortei um 
                           saco de tecido 
                           para transportar 
                           sapatos no 
                           formato de 
                           um capuz. 
                           Não 
                           ficou bonito, 
                           mas funcionou! 
                           Não 
                           encontrei 
                           quase nada, 
                           umas poucas 
                           Bursas, Astraea 
                           caelata (bonitas, 
                           perto da arrebentação 
                           onde quase 
                           me arrebentei), 
                           Arene cruentata, 
                           Fissurellas, 
                           Cymatiums 
                           e outras tranqueiras. 
                           Foi minha 
                           primeira tentativa 
                           de usar a 
                           câmera 
                           mergulhando 
                           – fiquei 
                           com medo de 
                           fritar logo 
                           de cara, mas 
                           funcionou 
                           bem. Depois 
                           de quase 5 
                           horas mergulhando 
                           eu desisti 
                           e voltei para 
                           o quarto para 
                           me arrumar 
                           e sair à 
                           busca de conchas 
                           de terra. 
                           Ainda bem 
                           que não 
                           fui esperando 
                           encontrar 
                           muitas conchas 
                           marinhas!
                         
                        Eu estava 
                           curioso para 
                           ver como a 
                           câmera 
                           identificaria 
                           o local – 
                           ela utiliza 
                           os nomes do 
                           Google Earth. 
                           Logo nas primeiras 
                           fotos no lugar 
                           do nome aparecia 
                           “Reading” 
                           (“Lendo” 
                           em português). 
                           Droga, será 
                           que a máquina 
                           não 
                           achou a localização? 
                           Dã.... 
                           depois que 
                           eu vi no mapa 
                           que o nome 
                           da cidade 
                           é Reading! 
                        
                        
                        
                        
                        Fique à 
                           esquerda, 
                           Fique à 
                           esquerda.... 
                           pelo menos 
                           o micro Suzuky 
                           Swift tinha 
                           a direção 
                           do lado direito 
                           o que me fazia 
                           lembrar de 
                           ficar à 
                           esquerda. 
                           Até 
                           que me acostumei 
                           rápido 
                           desta vez, 
                           tirando o 
                           fato de tentar 
                           procurar o 
                           cinto de segurança 
                           do lado errado 
                           todas as vezes 
                           que entrava 
                           no carro, 
                           e de ligar 
                           o limpador 
                           de vidros 
                           ao invés 
                           do pisca-pisca. 
                           Apesar de 
                           ter comprado 
                           um mapa, eu 
                           aluguei um 
                           GPS e um celular 
                           na locadora 
                           do carro – 
                           não 
                           confio no 
                           meu péssimo 
                           senso de direção. 
                           Sai do hotel 
                           e fui para 
                           o oeste, entrei 
                           em uma estrada 
                           principal 
                           que corta 
                           a ilha – 
                           mas era muito 
                           movimentada 
                           e habitada, 
                           não 
                           tinha onde 
                           parar para 
                           procurar conchas. 
                           Voltei e continuei 
                           para o oeste, 
                           encontrei 
                           uma estradinha 
                           próxima 
                           ao Rio Flynn 
                           e lá 
                           eu pude parar 
                           o carro para 
                           procurar conchas. 
                           Achei várias 
                           espécies, 
                           mas estava 
                           garoando e 
                           escurecendo, 
                           tive que voltar 
                           para o hotel 
                           onde uma Margarita 
                           estava me 
                           esperando 
                           no bar. 
                         
                        Antes de sair 
                           do Brasil 
                           eu li sobre 
                           Windsor Cave 
                           – um 
                           grupo de cavernas 
                           de 3 km de 
                           extensão 
                           na província 
                           de Trelawny. 
                           Supostamente 
                           seria um dos 
                           melhores locais 
                           de coleta 
                           na ilha. Tentei 
                           ajustar o 
                           GPS do carro 
                           à noite, 
                           mas nem o 
                           aparelho sabia 
                           como chegar 
                           lá! 
                           Tive que pegar 
                           o mapa e procurar 
                           uma cidade 
                           próxima 
                           para colocar 
                           na Gisele 
                           (GPS é 
                           muito formal) 
                           então 
                           marquei Sherwood 
                           Content que 
                           ficava perto.
                         
                        Depois de 
                           um café 
                           da manhã 
                           rápido 
                           saí 
                           com o carro. 
                           Minha intenção 
                           era a de parar 
                           no máximo 
                           de locais 
                           possível 
                           no caminho. 
                           Entrei em 
                           uma pequena 
                           estrada estreita 
                           e escura – 
                           assim que 
                           vi um local 
                           apropriado 
                           eu parei o 
                           carro perto 
                           de um barranco. 
                           Encontrei 
                           diversas conchas 
                           – e 
                           várias 
                           pessoas paravam 
                           seus carros 
                           para perguntar 
                           se eu estava 
                           precisando 
                           de ajuda. 
                           Bem diferente 
                           de Montego, 
                           como em toda 
                           cidade mais 
                           populosa as 
                           pessoas tendem 
                           a ficar alheias 
                           aos outros. 
                           Mais à 
                           frente um 
                           ciclista rastafári 
                           se aproximou 
                           e se apresentou 
                           como Thomas. 
                           Então 
                           ele tirou 
                           uma sacola 
                           das costas 
                           dizendo que 
                           teria algo 
                           para me mostrar 
                           – pronto, 
                           pensei – 
                           lá 
                           vem um delivery 
                           do Baseado-Express! 
                           Mas, não 
                           – ele 
                           tinha artesanato 
                           para vender. 
                           Para desconversar 
                           eu fui logo 
                           dizendo que 
                           não 
                           havia trazido 
                           muito dinheiro 
                           e que naquele 
                           momento não 
                           poderia comprar 
                           nada. Aí 
                           ele me perguntou 
                           o que eu estava 
                           fazendo ao 
                           que respondi 
                           que estava 
                           pegando conchas. 
                           E ele “ah, 
                           para usar 
                           como iscas?” 
                           – eu 
                           expliquei 
                           que estudava 
                           as conchas, 
                           e aproveitei 
                           para perguntar 
                           se ele sabia 
                           onde encontrar 
                           mais. Ele 
                           parecia interessado 
                           e me disse 
                           que sempre 
                           via conchas 
                           em folhas 
                           de bananeira 
                           – um 
                           sinal de que 
                           ele sabia 
                           do que estava 
                           falando. Eu 
                           sorri e voltei 
                           a fazer o 
                           que estava 
                           fazendo – 
                           depois de 
                           uns minutos 
                           ele voltou 
                           com as mãos 
                           cheias de 
                           conchas! Eu 
                           disse que 
                           se ele juntasse 
                           outras eu 
                           poderia comprar 
                           no dia seguinte. 
                           Anotei seu 
                           celular (sim, 
                           ele tinha 
                           um) e disse 
                           que voltaria 
                           no dia seguinte.
                         
                        Finalmente 
                           cheguei em 
                           Sherwood Content 
                           (Content com 
                           o quê 
                           eu não 
                           vi) e perguntei 
                           como chegar 
                           a Windsor 
                           Cave. Me apontaram 
                           uma estradinha 
                           estreita, 
                           de terra e 
                           toda esburacada. 
                           Naquela hora 
                           me arrependi 
                           de não 
                           ter alugado 
                           um 4x4! Meu 
                           amigo Richard 
                           Goldberg disse 
                           que em suas 
                           expedições 
                           para a Jamaica 
                           teve vários 
                           pneus rasgados 
                           nessas estradas, 
                           mesmo usando 
                           carros apropriados 
                           para esse 
                           tipo de terreno. 
                           E lá 
                           eu estava, 
                           com um carrinho 
                           da Matchbox 
                           com pneus 
                           de bicicleta, 
                           entrando em 
                           uma estrada 
                           abandonada, 
                           dirigindo 
                           sozinho. (É 
                           bom poder 
                           escrever sobre 
                           estas aventuras 
                           tendo sobrevivido 
                           e estando 
                           no conforto 
                           de meu escritório...). 
                           Fui dirigindo 
                           devagar para 
                           não 
                           despencar 
                           com o carro 
                           em uma cratera, 
                           e tentei diversas 
                           vezes checar 
                           com a Gisele 
                           onde estava, 
                           mas ela não 
                           parava de 
                           repetir “Não 
                           sei onde estamos 
                           – por 
                           favor, leve-me 
                           para casa”. 
                           Finalmente 
                           cheguei à 
                           entrada de 
                           Windsor Cave 
                           – onde 
                           outro rastafári 
                           cuidava dos 
                           ingressos. 
                           Deve ser extremamente 
                           tedioso nesta 
                           época 
                           do ano – 
                           pela altura 
                           do mato no 
                           meio da estrada 
                           deduzi que 
                           eu devia ser 
                           o primeiro 
                           turista do 
                           semestre. 
                           O rasta cobrava 
                           20 dólares 
                           para entrar 
                           no primeiro 
                           salão 
                           da caverna 
                           – o 
                           pior é 
                           que tive que 
                           colocar combustível 
                           e fiquei com 
                           15 dólares 
                           no bolso! 
                           Eu perguntei 
                           se ele poderia 
                           me levar por 
                           10 dólares 
                           só 
                           até 
                           a entrada 
                           e ele concordou. 
                           Eu nem poderia 
                           me aprofundar 
                           muito na caverna 
                           sem o equipamento 
                           necessário. 
                           Eu estava 
                           de chinelos 
                           e bermuda, 
                           digamos que 
                           não 
                           é o 
                           adequado.... 
                           Tirei umas 
                           fotos da entrada 
                           e preferi 
                           começar 
                           a voltar antes 
                           que o céu 
                           despencasse 
                           e eu ficasse 
                           preso naquele 
                           fim de mundo. 
                           Na volta encontrei 
                           uma plantação 
                           de bananas 
                           – e 
                           um punhado 
                           de conchas!
                         
                        Dirigir do 
                           lado esquerdo 
                           cansa mais 
                           do que o normal 
                           – acho 
                           que faz com 
                           que uma parte 
                           inativa do 
                           cérebro 
                           comece a funcionar... 
                           Após 
                           enfrentar 
                           aquela estrada 
                           miserável 
                           novamente 
                           (só 
                           volto com 
                           um Land Rover) 
                           cheguei ao 
                           asfalto e 
                           segui as instruções 
                           da Gisele 
                           para voltar 
                           ao hotel (ao 
                           chegar suas 
                           palavras exatas 
                           foram “entre 
                           à esquerda 
                           no lobby, 
                           sente no bar 
                           e peça 
                           uma cerveja”). 
                           Fiquei satisfeito 
                           com o resultado 
                           do dia – 
                           pelo menos 
                           foi muito 
                           melhor que 
                           minha tentativa 
                           no mar pela 
                           manhã.
                         
                        À noite 
                           liguei para 
                           o Thomas – 
                           como ele parecia 
                           confiável 
                           e seria bom 
                           tem um local 
                           comigo dependendo 
                           de onde fosse, 
                           eu decidi 
                           convidá-lo 
                           para ir comigo 
                           coletar no 
                           dia seguinte.
                         
                        Na manhã 
                           seguinte encontrei 
                           com ele no 
                           ponto onde 
                           havíamos 
                           nos conhecido. 
                           Ele era totalmente 
                           Zen – 
                           ou queimou 
                           algumas células 
                           cinzentas 
                           com tanta 
                           maconha, não 
                           sei – 
                           mas me explicou 
                           um pouco o 
                           que era “rastafári”. 
                           Me disse que 
                           é mais 
                           um estilo 
                           de vida, e 
                           não 
                           uma religião 
                           como muitos 
                           pensam. São 
                           pessoas que 
                           decidem viver 
                           mais na natureza, 
                           sem se apegar 
                           a bens materiais 
                           em excesso. 
                           Ele faz artesanato 
                           e vende em 
                           uma barraquinha 
                           na beira da 
                           estrada, onde 
                           uma cooperativa 
                           aluga o espaço 
                           para várias 
                           pessoas. Só 
                           que nesta 
                           época 
                           do ano não 
                           tem muitos 
                           turistas então 
                           ele pôde 
                           me acompanhar.
                        
                        
                        
                        A Jamaica 
                           é muito 
                           grande, não 
                           daria para 
                           cobrir a ilha 
                           toda em poucos 
                           dias, então 
                           escolhi no 
                           mapa alguns 
                           pontos onde 
                           poderia chegar 
                           através 
                           de pequenas 
                           estradas, 
                           como Brown’s 
                           Town e St. 
                           Ann. O Thomas 
                           logo se mostrou 
                           útil 
                           ao apontar 
                           um local que 
                           lhe parecia 
                           ser bom para 
                           conchas – 
                           e não 
                           é que 
                           ele estava 
                           certo? Encontramos 
                           várias 
                           espécies 
                           logo no começo 
                           da viagem.
                         
                        Um pouco antes 
                           de Brown’s 
                           Town achamos 
                           uma pequena 
                           estrada – 
                           pavimentada, 
                           mas abandonada. 
                           Era encostada 
                           em uma colina 
                           o que impedia 
                           o vento de 
                           chegar – 
                           o sol estava 
                           esturricando 
                           o local. O 
                           Thomas adentrou 
                           a mata e eu 
                           fiquei procurando 
                           perto do asfalto 
                           (entendeu 
                           agora o porquê 
                           de eu convidá-lo?). 
                           Estava tão 
                           quente que 
                           eu poderia 
                           jurar ter 
                           visto um lagarto 
                           se abanando 
                           com uma folha. 
                           Apesar de 
                           estar meio 
                           tonto com 
                           o calor, consegui 
                           encontrar 
                           algumas conchas 
                           interessantes 
                           como Lucidella 
                           undulata – 
                           espécie 
                           que só 
                           encontrei 
                           naquele local, 
                           e em pequenos 
                           arbustos que 
                           cresciam no 
                           meio do asfalto.
                         
                        Depois de 
                           Brown’s 
                           Town paramos 
                           e encontramos 
                           mais um punhado 
                           de conchas 
                           – para 
                           ser sincero 
                           eram muito 
                           parecidas 
                           entre si (eu 
                           não 
                           manjo muito 
                           de terrestres) 
                           mas eu sabia 
                           que o José 
                           saberia encontrar 
                           a identificação 
                           correta de 
                           cada uma. 
                           Deixei o Thomas 
                           em frente 
                           à sua 
                           barraquinha 
                           de artesanato, 
                           mas antes 
                           demos uma 
                           olhada nas 
                           árvores 
                           perto e encontramos 
                           outras conchas. 
                           E eu encontrei 
                           provavelmente 
                           o único 
                           pé 
                           de urtiga 
                           da ilha... 
                           estava agachado 
                           e relei a 
                           mão, 
                           ao me afastar 
                           com dor eu 
                           raspei meu 
                           joelho! Sem 
                           problema, 
                           ele não 
                           entendeu @!%#%*$#& 
                           em português.
                         
                        Combinei de 
                           nos encontrarmos 
                           no dia seguinte 
                           para irmos 
                           a Negril, 
                           do lado oeste 
                           da ilha, e 
                           fui embora. 
                           Tentei dormir 
                           cedo – 
                           não 
                           foi fácil, 
                           já 
                           que tinham 
                           shows todas 
                           as noites 
                           e meu quarto 
                           era no segundo 
                           andar, logo 
                           acima do local 
                           onde as bandas 
                           tocavam. O 
                           que essas 
                           pessoas pensavam? 
                           Que era para 
                           se divertir 
                           o tempo todo 
                           no hotel? 
                           J
                         
                        Na manhã 
                           seguinte busquei 
                           o Thomas e 
                           fui para o 
                           local perto 
                           do rio Flynn 
                           onde havia 
                           encontrado 
                           conchas dois 
                           dias antes. 
                           Pegamos várias 
                           espécies 
                           e o Thomas 
                           trouxe para 
                           o carro um 
                           maço 
                           de plantas 
                           – não 
                           “aquela” 
                           planta, mas 
                           algo que ele 
                           disse que 
                           era bom para 
                           as costas. 
                           Só 
                           não 
                           sei se ele 
                           iria esfregar 
                           a planta nas 
                           costas, ferver 
                           e beber, ou 
                           enrolar e 
                           fumar. Obviamente 
                           eu o avisei 
                           que não 
                           poderia levar 
                           nada no carro 
                           que fosse 
                           ilegal – 
                           a última 
                           coisa que 
                           eu queria 
                           era passar 
                           férias 
                           em uma cadeia 
                           na Jamaica....
                         
                        Já 
                           na costa oeste 
                           passamos ao 
                           lado de uma 
                           praia com 
                           corais fósseis 
                           expostos pela 
                           maré 
                           – o 
                           Thomas pediu 
                           para eu estacionar 
                           para procurarmos 
                           por conchas, 
                           ao que respondi 
                           que ali não 
                           deveria ter 
                           nenhuma terrestre. 
                           Aí 
                           que me deu 
                           um estalo 
                           – eu 
                           havia esquecido 
                           por completo 
                           das conchas 
                           marinhas, 
                           se ele não 
                           me lembrasse 
                           eu nem pararia! 
                           Encontramos 
                           algumas conchas 
                           comuns, mas 
                           bem bonitas 
                           como Neritas 
                           e Littorinas. 
                           Logo em seguida 
                           na estrada 
                           vi um comando 
                           da polícia 
                           – eu 
                           já 
                           havia passado 
                           por outros 
                           antes mas 
                           não 
                           me pararam. 
                           Só 
                           que desta 
                           vez eu estava 
                           com um potencial 
                           “fornecedor” 
                           local comigo! 
                           Nos pararam 
                           e logo duas 
                           coisas me 
                           vieram à 
                           cabeça: 
                           será 
                           que aquela 
                           planta do 
                           porta-malas 
                           era inofensiva; 
                           e será 
                           que o Thomas 
                           não 
                           tinha nenhuma 
                           outra planta 
                           “medicinal” 
                           na sua mochila? 
                           Eles estavam 
                           procurando 
                           por armas 
                           e drogas - 
                           nos revistaram 
                           e pediram 
                           para abrir 
                           o porta-malas. 
                           Assim que 
                           ele viu o 
                           maço 
                           de plantas 
                           olhou para 
                           mim e eu dei 
                           de ombros 
                           – disse 
                           que era algo 
                           supostamente 
                           medicinal 
                           (e na minha 
                           cabeça: 
                           como seriam 
                           as celas dos 
                           presídios?). 
                           Ele se voltou 
                           para o Thomas 
                           que lhe respondeu 
                           em patuá 
                           (a língua 
                           local) alguma 
                           coisa e os 
                           dois deram 
                           risadas – 
                           eu também 
                           sorri amareladamente.... 
                           Nos deixaram 
                           ir e continuamos 
                           nosso caminho.
                         
                        Chegamos em 
                           Negril – 
                           mas a vegetação 
                           não 
                           era tão 
                           verde e estava 
                           mais seca. 
                           Entrei em 
                           direção 
                           leste e para 
                           Little London, 
                           onde pegaria 
                           uma estradinha 
                           em direção 
                           ao norte, 
                           para Lucea. 
                           Outra meleca 
                           de estradinha, 
                           toda esburacada 
                           e passando 
                           no meio de 
                           uma plantação 
                           gigante de 
                           cana de açúcar. 
                           Havia pontos 
                           onde a cana 
                           raspava nas 
                           duas laterais 
                           do carro de 
                           tão 
                           estreita que 
                           a estrada 
                           era. Mas pelo 
                           menos chegamos 
                           a uma montanha 
                           rica em vegetação 
                           – e 
                           conchas!
                         
                        Estava chovendo 
                           meio forte 
                           e eu ainda 
                           teria que 
                           levar o Thomas 
                           para a casa 
                           dele, voltar 
                           para o hotel, 
                           limpar as 
                           conchas (da 
                           próxima 
                           vez eu ensino 
                           o Thomas a 
                           limpar....), 
                           tomar um banho, 
                           jantar e arrumar 
                           as malas. 
                        
                         
                        Meu vôo 
                           era às 
                           7 da manhã, 
                           tive que chegar 
                           duas horas 
                           antes e devolver 
                           o carro na 
                           locadora - 
                           que obviamente 
                           estava fechada 
                           – assim 
                           deixei as 
                           chaves na 
                           caixa de devolução 
                           da locadora 
                           dentro do 
                           aeroporto.
                         
                        No fim a viagem 
                           foi bem produtiva 
                           e consegui 
                           sobreviver 
                           a mais uma!