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Mark Chan on 20/8/2009
A very deive,informative and exciting journey indeed. Thanks you, Marcus.




Breve Viagem às Bahamas (ou Viagem Enrolada às Bahamas) por Marcus
 

Tinha que passar novamente por Miami por alguns dias então resolvi esticar a viagem gastando somente mais 100 dólares para ir às Bahamas. As ilhas tem uma fauna fantástica de Cerionidae, e a melhor localidade seria New Providence (onde fica a capital, Nassau) de acordo com o site de Cerionidae do Smithsonian Museum, um trabalha fantástico compilado por Dr. Jerry Harasewych, (http://invertebrates.si.edu/cerion/). Lá poderia encontrar quase 100 espécies de Cerion, a maior parte descrita por Maynard no fim do século 19 e começo do 20.

Na viagem anterior às Bahamas em 2005 encontrei quase 30 espécies nas ilhas Exumas e Eleuthera (http://www.femorale.com/articles/bahamas/2005/?id=7), então estava ansioso para ver o que encontraria em New Providence.

Fiz a reserva no site da American Airlines, para isso eu digitei Nassau Bahamas para ver as opções de horários e dias disponíveis. Vi a que melhor encaixava no meu plano de viagem e repassei ao meu agente de viagens, Sidney Gigliotti (Bigben Turismo http://bigbenturismo.com.br ). Seria uma viagem rápida, somente dois dias e meio, chegando à uma da tarde em uma quarta-feira e voltando para Miami no sábado na hora do almoço. O próximo passo foi reservar o hotel – fiz diretamente no site da American Airlines, , Sandyport Beaches Resort em Nassau (http://www.sandyport.com/) por US$95.00/dia. O hotel é bem localizado, no meio do norte da ilha, o que facilitaria minha locomoção para qualquer lugar que fosse. O trânsito nas Bahamas é o de mão inglesa, portanto eu não me atreveria a alugar um carro... preferi alugar uma scooter como fiz nas Ilhas Cook (http://www.femorale.com/articles/cooks/rarotonga/?id=4).

Tudo pronto e confirmado, cheguei no balcão da American Airlines em Miami e a atendente me perguntou:

- Para onde?
- Bahamas
- Nassau?
- Sim

Ela olhou o computador e meus documentos e disse:

- Não, aqui diz Freeport...
- Sua reserva é para Freeport, não Nassau
- Como ?!?!?

Droga! Quando eu passei os vôos para o Sidney eu não percebi que o site da American havia me dado mais opções do que eu queria, inclusive com vôos para outras ilhas das Bahamas! Por sorte o vôo era curto, apenas 35 minutos e assim que cheguei em Freeport eu comprei uma passagem para Nassau (70 dolares) e só tive que esperar uma hora para embarcar. Ao chegar em Nassau um taxista me levou ao hotel e aproveitei para marcar com ele para que me buscasse no sábado bem cedo para minha volta. Ele me deu seu cartão para que eu ligasse confirmando na sexta-feira à noite.

O hotel era muito bom, perto de uma praia com areias brancas e águas transparentes. O atendente me ajudou a alugar o scooter (não foi muito barato, 50 dólares por dia) e o trouxeram em poucos minutos. Depois de me acostumar um pouco com a motoca e com o lado errado para dirigir (bom, certo para eles...) eu fui dar uma volta para conhecer a região. Com certeza a ilha é um “pouco” mais povoada e civilizada do que quando Maynard conseguiu os exemplares que descreveu... não achei nenhum lugar que fosse possível encontrar algum terrestre. De qualquer forma teria dois dias inteiros para explorar a ilha. Voltei ao hotel para aproveitar o resto de sol para fazer um snorkel. A água estava morna e limpa, contudo sem a fauna que encontrei nas outras ilhas em minha viagem anterior. Meu objetivo era encontrar conchas terrestres, mas admito que esperava achar mais conchas marinhas do que um punhado de Columbellas...

Depois de uma boa noite de sono, levantei e dirigi para o lado leste da ilha. Passei pelo centro da cidade, tomando cuidado para não atropelar ninguém ou dar de frente com os carros vindo na outra direção. Eu parei em diversos locais onde parecia ser possível encontrar alguma mata nativa. No primeiro lugar não achei nem sinal de Cerion, apenas exemplares mortos de Zachrysia e Hemithrochus varians. Um pouco mais à frente encontrei os primeiros exemplares de Cerion mortos, próximos a um terreno baldio em uma área onde casas estavam sendo construídas. Após quatro horas voltei ao hotel para comer um lanche (e tomar uma cervejinha gelada...) em seguida zarpei para Coral Harbour no sul. Embora menos povoado que a parte leste eu não encontrei nenhuma terrestre. O que havia por todos os lados era lixo, uma quantidade enorme. Não entendo como é possível um lugar cheio de potencial para turismo ter lixo em toda parte. Em alguns lugares parecia que as pessoas procuravam por locais menos sujos para colocar ali o seu lixo!

De lá fui em direção a OId Fort Bay, mas tentei pegar estradas não muito movimentadas para que fosse possível encontrar locais apropriados para terrestres. Entrei em uma estrada que estava sendo construída – ainda sem asfalto. Estava quente, a estrada era poeirenta e o solo era esbranquiçado pela areia e coral moído, fazendo o calor refletir e esquentar ainda mais. Nessa hora eu desejei que o fabricante da Scooter tivesse colocado um refrigerador no compartimento embaixo do assento para guardar bebidas! Eu até levava água gelada ao sair do hotel, mas após rodas por horas eu acabava tomando água quente...

Voltei ao hotel e fui fazer outra vez snorkel – mas desta vez achei melhor não levar tanta tranqueira comigo, deixei minha pequena draga de mão, a câmera fotográfica e minha chave de fenda (que uso para remover patelas e outras conchas das pedras). Eu até que encontrei mais espécies que antes, e achei um Chiton enorme e muito bonito! Meu companheiro de viagem, o Murphy (que escreveu a Lei dele) estava comigo. Aí percebi que havia deixado a chave de fenda no quarto, não tinha como tirar o Chiton da pedra! Procurei dentre o lixo que estava boiando perto alguma coisa para tirá-lo da pedra, mas nada. Então lembrei que o cartão que abre o quarto estava comigo e o usei com sucesso para tirar o bicho da pedra. Estragou um pouco a beirada do Chiton – e digamos que a chave não funcionou mais como antes, não sei por quê...

Na manhã seguinte dirigi até South Beach – bem diferente do lugar com o mesmo nome na Flórida. No caminho vi ao menos três cachorros mortos na estrada, um deles havia dissolvido no asfalto. A maré estava baixa e estacionei a moto perto da praia sob algumas árvores (e no meio do lixo, claro). Encontrei Battilaria minima, Natica e algumas bivalves. Voltei para a estrada e fui até o fim dela, onde parecia um depósito de lixo (ok, o lugar todo parecia). Embora eu não houvesse alugado uma moto off-road eu me embrenhei no meio do lixão, haviam diversos caminhos e dirigi até um ponto onde havia menos lixo e mais vegetação. Finalmente fui recompensado pela minha persistência: encontrei diversos Cerion, inclusive exemplares vivos! Eles estavam sob a folhagem no chão, juntamente com Opisthosiphon bahamiense que havia coletado mortos em outros lugares. Eles preferem ficar sob a vegetação úmida no pé das árvores, o único lugar onde não seriam fritos pelo forte sol.

Era hora do almoço, então comecei a voltar ao hotel – no caminho parei em um restaurante com comida típica, Subway. Tinha que tentar coletar mais Cerion, mas onde? Tentei entrar em todas ruas no caminho, mesmo dentro de áreas residenciais onde só haviam mansões. Aliás, acho que New Providence é o local onde vi mais mansões no caribe todo. A maior parte é usada como casa de férias, ou estão à venda ou para alugar. Achei um terreno baldio no meio de uma rua e encontrei alguns Cerion mortos, quase fósseis. Atrás das casas havia uma floresta densa, e neste terreno achei uma pequena passagem que parecia dar na mata. A passagem estava coberta de (adivinhe?) lixo, mas consegui passar assim mesmo. Não sou um grande fã de entrar em mata cerrada, mas tinha que tentar encontrar mais conchas. Ao passar pelo lixo achei o que parecia ser um caminho coberto de pedaços de coral, como se tivessem sido dispostos em uma calçada. Encontrei mais Zachrysia e Opisthosiphon, entre aranhas e uma pequena cobra… Aí percebi que o caminho era parte de um muro que desabou. Não sou arqueólogo, mas pelo aspecto parecia que aquilo havia sido construído pelo menos há uns 200 anos! Como não encontrei ali dobrões de ouro nem uma arca de tesouro eu voltei para o hotel.

Naquela noite eu liguei para o taxista para confirmar o dia seguinte, pedi que estivesse no hotel às 6:45h da manhã. O vôo para Freeport seria às 8:00h e para Miami ao meio-dia, então eu teria tempo de folga antes de ambos. Só não poderia perder nenhum destes vôos ou estaria com problemas para chegar à tempo para voltar ao Brasil à noite. Levantei bem cedo, e fiquei esperando o taxi. Passaram-se cinco minutos do tempo marcado, dez, quinze... aí eu liguei do meu celular e o taxista atendeu com voz de sono: “não se preocupe, eu chego aí rápido e se você chegar meia hora antes do vôo pode embarcar”. Relutantemente aceitei e continuei esperando na estrada em frente ao hotel. Minha cara de desespero devia ser tão grande que uma senhora parou seu carro e perguntou se eu precisava de carona! Explique que teria que chegar ao aeroporto para não perder o avião. Ela gentilmente me levou e chegamos em tempo para que eu pudesse fazer o check-in. Em tempo? O avião estava atrasado em uma hora! Depois em duas horas, e finalmente após três horas levantamos vôo. Eu iria perder o vôo para Miami de Freeport, então pedi à aeromoça que falasse com o capitão para que ele passasse um rádio à torre de comando na esperança de que a American esperasse 10 minutinhos a mais (até parece...). Quando cheguei em Freeport o vôo já estava fechado, perdi o avião!

Felizmente havia outro vôo, às 5 da tarde. Eu teria quase 4 horas antes de embarcar, então dei uma volta perto do aeroporto para procurar mais Cerion – nada... Digamos que o aeroporto de Freeport não tem infraestrutura como o de Dallas ou Nova Iorque por exemplo. UMA loja de lembranças, UMA com revistas e UMA lanchonete. Fiquei entediado esperando o embarque, devo ter jogado algumas centenas de vezes Paciência no meu celular. Um pouco antes das 5 horas notei que não tinha nenhum avião da American na pista. Adivinhe? Estava atrasado! Uma hora… duas horas… três horas de novo! Eu iria perder o vôo para São Paulo, até poderia dar tempo mas eu decidi ligar para a American e remarcar para o dia seguinte, não estava a fim de passar nervoso novamente. Ainda bem que fiz isso, quando chegamos em Miami já era tarde para embarcar de qualquer forma.

Peguei um taxi e fui para a casa de meu irmão Marcello em Miami. Chegando lá tomei uma ducha, jantei, bebi vinho, assisti TV e tive uma ótima noite de sono. Falei com o Marcello e ele me deu um voucher para fazer upgrade na American Airlines, assim pude voltar descansado para São Paulo em classe executiva!

 

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